18 de outubro de 2007

Jogo da bola!

De vez em quando perguntam-me se não tenho saudades da escola... Eu respondo que sim, claro, que não fazia nada e que chegava a casa a tempo de ver o San Goku!

Mas, pensando bem, há outras de que tenho saudades... designadamente de jogar à bola. Contudo, não é do jogo da bola em si que tenho saudades, mas sim de toda a envolvente ao próprio jogo:


1. Reservar o campo


Apesar de a escola onde andei ter vários campos de futebol, nem sempre era fácil conseguir jogar, isto porque a concorrência era feroz. Era impressionante... mal soava o toque de saída para o intervalo grande (que era a meio da manhã, às 11 horas) e para a hora de almoço saíamos a correr das salas em direcção aos campos de futebol, sendo que o primeiro que tocasse no poste da baliza, ganhava o direito a jogar naquela metade do campo. Se porventura quisséssemos jogar no campo inteiro a turma que teria que ter dois velocistas para conseguirem chegar a ambas as balizas do mesmo campo, para terem direito a jogar no campo inteiro.


Claro que, muitas vezes, para se jogar à bola havia que fazer sacríficio... normalmente quem corria para o campo (normalmente o colega de raça negra, por ser mais veloz), não tomava o pequeno almoço, ou não almoçava.


2. A Escolha das Equipas


Outra involvente ao jogo da bola era a escolha da constituição das equipas, cujo n.º se jogadores dependia do número de alunos no campo. Se eram 14, fazia-se um 7 para 7, se eram 25, um 12 para 13, se eram 7, um 3 para 4.


Como se prodedia, então, à escolha das equipas? Em primeiro lugar, e para uma melhor explicação desta complexa operação é necessário classificar os jogadores em 7 grupos:

- Os capitães de equipa - normalmente bons jogadores mas individualistas, destacavam-se por mais por ter uma forte personalidade, do que pelos seus dotes futebolísticos (um deles é o dono da bola)

- As estrelas - os melhores jogadores, normalmente aliavam capacidade técnica e velocidade a um remate forte e colocado, conseguiam fintar meia equipa e marcar golo;

- Os normais - são jogadores regulares, sabem fazer passes, rematar e desarmar, sabem as regras do jogo mas não se destacam;

- Os guarda-redes - preferem ir à baliza do que jogar à frente, normalmente não têm medo de se mandar para o chão, sabem defender e conhecem as regras do jogo;

- Os gordos - destacam-se pela sua opulência corporal e pela sua lentidão. Não são necessariamente fracos tecnicamente.

- Os azelhas - não sabem rematar nem passar, normalmente chutam de biqueira. Não sabem as regras do jogo.

- As marias-rapazes - são raparigas que se vestem como rapazes e que gostam de jogar à bola, normalmente dominam as regras e têm boa técnica, mas são frágeis do ponto de vista físico.


O procedimento da escolha das equipas era o seguinte: Os dois capitães de equipa reuniam-se n centro do campo sendo rodeados pelos restantes colegas. Era lançada uma moeda ao ar, quem ganhasse no cara ou coroa, poderia escolher o primeiro jogador para a sua equipa, normalmente uma estrela. Depois seria a vez do capitão da outra equipa, que escolheria outra estrela, ou no caso de não haver, o jogador normal ou o guarda-redes que fosse mais seu amigo.

Depois de escolhidos os guarda-redes e todos os jogadores normais, são escolhidas as marias-rapazes e depois os gordos. Por fim, os Azelhas dividem-se pelas equipas (estes não são escolhidos e caso não haja guarda-redes cabe-lhes a função de ir à baliza).


3. Posso jogar?


Muitas vezes, a meio de um jogo aparecia um novo colega que prentendo entrar no jogo, endereçava para dentro do campo o famoso "Posso jogar?". A resposta dependia de vários factores, designadamente da categoria de jogador em que ele se insere, do número de jogadores em campo e, especialmente, do grau de amizade com o dono da bola.


4. Problemas de arbitragem


Nos jogos da bola na escola, ao contrário do que se passa na futebol a sério não há quaisquer problemas de arbitragem, porque simplesmente não há árbitros. Quando há dúvidas sobre se é falta ou não, se a bola entrou na baliza ou não, se o gordo tocou com a mão ou não, quem decide é normalmente... o dono da bola. Ele, quando se vê perante uma questão de dúvida que pode vir a prejudicar a sua equipa, não hesita e refere qualquer coisa do género: " Se se pôem com coisas, vou-me embora...ah e levo a bola!". Fica tudo decidido e acabam as polémicas.



Tenho saudades deste Futebol! Eu não era, normalmente, capitão de equipa, nem tão pouco uma estrela, contudo era sempre dos primeiros normais a ser escolhido, não sei se pelos dotes técnicos ou se por ser um tipo porreiro e normalmente amigo dos capitães!


Abraços,

6 comentários:

Bruninha disse...

N sejas mentiroso Gigi!!! Toda a gente sabe que eras o gordo e só jogavas qd eras o dono da bola!

tiagugrilu disse...

Eheh...! Igualzinho na minha escola.

Devo dizer que sou dos "normais" (dos mais fraquinhos entre os normais, mas ainda assim normal porque não chuto de biqueira), mas que sempre joguei por ser o gajo que se não o deixassem jogar, derrubava as balizas e fugia.

Na escola primária, como sou meio loiro, deixavam-me jogar porque era parecido com o Magnussen do Benfica. Não tinha era a mesma queda para o futebol que o original...

Bruninha disse...

Isso não faz sentido! É como se me deixassem cozinhar só pq sou parecida com o Manuel Luís Goucha!...

tiagugrilu disse...

De facto, também acho que não te deviam deixar cozinhar, se és parecida com o Goucha...

Ou isso era um supônhamos?

Anónimo disse...

Gigi pah!

Tu eras a estrela da nossa turma, porque é que dizes que eras o melhor dos normais?

Tu eras um espectáculo, ainda me lembro daquele golo que marcaste ao 7.º C, na final do Torneio do Não Fumador de 1994, um remate fantástico do meio campo a fazer entrar a bola "na gaveta".

Temos que combinar um jogo!

Abraço,

Salvador Bourbon Roquette

Anónimo disse...

É verdade, Gigi. Tu eras o Ronaldinho lá da turma (não pelos dotes futebolísticos, mas sim pelos dentes). Também me lembro muito bem do golo ao 7º C, em 1994. Um remate poderoso do meio campo que entrou mesmo na gaveta da secretária da professora Lisete. Valeu-te mais um comentário negativo no livro de ponto. Bons velhos tempos...
Abraço,

Santiago Winnenberg Espírito Santo