Vidas...

9.15. Saio de casa. Disponho de exactamente 15 minutos para chegar ao escritório. Moro em Oeiras. Escritório em Lisboa. Hora de ponta. Ainda assim fecho a porta com um sorriso. Quando me estou a aproximar do carro, um cavalheiro encorpado, com óculo escuro Prada que lhe cobria aproximadamente 3/4 do rosto, diz: “Este carro é seu?” Hesitei. Tendo em conta o olhar ameaçador pensei em responder: “Não, não, eu daqui apanho o metro...” Repito: moro em Oeiras. Não há metro. Plano B: "Não confirmo nem desminto...". Não cola. Plano C:“Sim, porquê?”

Parece que havia uma qualquer raspagem no veículo automóvel do senhor e que, segundo o mesmo, ontem à noite não estava lá! “Ah, então se o senhor me garante que ontem há noite não estava lá deixe-me só ir buscar o meu livro de cheques e faça aí o preço por alto!...” Por amor de Deus! Há pessoas que perdem a noção da realidade... A peixarada instalou-se.

Chamou a polícia que mora a 3 minutos do local da ocorrência. 30 minutos à espera. Devem ter vindo pelo túnel do Marquês... 2 agentes com 2 canetas. Um só bloco de notas. Prevejo o pior. Mais 30 minutos para tomar conta da ocorrência, passados os quais os agentes nos informam, em linguagem policial, como se sabe sucinta e objectiva, que “se os senhores condutores tiverem a intenção solucionar este sinistro terão que reportar a ocorrência ocorrida a outro órgão policial de âmbito territorialmente competente uma vez que esta não é a polícia indicada para lidar com a matéria ora apresentada.” “...Ah, tá bom...”

Despedimo-nos com um aperto de mão que me deu cabo do mindo e cada um seguiu a sua vidinha, sem mais...

Isto acontece a mais alguém? Digam-me que sim...