Com a minha mais recente viagem cheguei à conclusão que o medo que eu tenho de andar de avião não se prende com o facto de estar a 11 mil pés de altitude numa coisinha de lata, nem com o facto de o senhor que está sentado ao meu lado estar a usar o computador como se não houvesse amanhã e provavelmente a interferir com todo o sistema de navegação aéreo, nem mesmo com o facto de a senhora da fila frente ir os primeiros 35 minutos da viagem a rezar o Pai Nosso em latim antigo... Não. Isso é para meninos.
O que verdadeiramente me assusta é a parte do tapete rolante, em que estamos à espera que a nossa malinha querida, onde empacotámos os nossos mais queridos haveres, seja cuspida daquele buraco negro que ninguém sabe de onde vem nem para onde vai... Como se de uma verdadeira sala de partos se tratasse, sinto suores frios, ando às voltas sobre mim mesma, revejo na minha mente tudo o que empacotei e penso para comigo: "não devia ter lá posto aquelas calças... Nunca vou conseguir comprar umas iguais..."
O momento crítico é aquele em que começo a ver aquela mala verde fluorescente a dar mais que uma volta ao tapete, abandonada, sem que ninguém a recolha... Hão de reparar que há sempre uma que se destaca pela cor e da qual podemos fazer ponto de referência para perceber que, em princípio, tudo indica que estamos em apuros...
Já com uma lágrima no canto do olho, a olhar invejosa para as pessoas que me rodeiam, felizes, pegando nas suas malas ao colo e atirando-as ao ar em câmara lenta, e com o brilho nos olhos de quem foi ao ponto de encontro e reencontrou uma tia sua parente em terceiro grau da linha colateral que nunca tinha conhecido mas que jura que tem o mesmo sangue que eles. De repente, uma luz celestial desce sobre uma mala azul escura, e ouço ao fundo: "É uma menina!"
Respiro fundo. Graças a Deus tudo acabou em bem. Agora só pro ano.
